quinta-feira, 28 de novembro de 2013

29. Um fim feliz, mas não para todos



O fim da história já todos o podem imaginar. O Maestro, o Passarinho e o senhor X, isto é o João da África do Sul (que na realidade era o João do Brasil, porque tinha ido ao Brasil e não à África do Sul, como tinha dito à Florida), foram encarcerados, em prisões diferentes. Foi provado que o João do Brasil, ou senhor X, era uma ligação portuguesa muito importante do bando brasileiro, e deu muitas informações à Polícia sobre o bando criminal. Todas as ligações portuguesas foram descobertas e o comissário Ramos foi promovido. O comissário Santos, também, recebeu uma menção honrosa, por ter ajudado na solução do caso.
A mulher do Passarinho separou-se dele e foi para o Brasil, onde o pequeno Tomás aprendeu a falar com acento brasileiro. A Polícia devolveu o dinheiro do casal Rodrigues. A senhora Begonha, então, sentiu muito aliviada por ter as suas poupanças íntegras e continuou a asistir telenovelas, pensando que algumas vezes na vida real também há fins felizes.
E o que aconteceu com o Joãozinho? Ficou a saber que o senhor X era o seu pai? A Florida disse-lhe a verdade, ou preferiu ficar calada sobre o assunto?
Isto, sinceramente, não o sei. Somente sei que, quando os dois se encontraram, e depois da Florida ter agradecido ao comissário Santos tudo o que ele tinha feito por ela, os dois voltaram para casa. Lá, o Joãozinho viu o pacote que estava na sua cama.
- Ó, mãezinha, disse, o que é isto?
- Bom, filhinho, respondeu ela, isto é o teu presente para o ano novo.
- Mas ainda é cedo. O pai Natal não chegou. Faltam tantos dias.
- Pois, este ano, só para ti, fez uma excepção. Trouxe-te o teu presente mais cedo.
- Que bom! disse o Joãozinho e começou a abrir o pacote.
A Florida estava a olhá-lo, muito comovida.
- Um carro vermelho! disse o menino e ficou com a boca aberta. E é novo, não é?
- Sim, meu querido, disse a Florida. É novo e é para ti.
- Obrigado, mãezinha! disse o Joãozinho e abraçou-a com ambas as mãos.


                                                            FIM

terça-feira, 26 de novembro de 2013

28. Velhos conhecidos



Como a Polícia os encontrou, nem o Maestro nem o Passarinho podiam imaginar. A resposta, porém, era simples. O dinheiro que estava no saco era dinheiro da Polícia, e os policias que tinham preparado o saco tinham posto um emissor dentro do saco. Assim, quando os raptores escaparam, os policias puderam segui-los, seguindo o sinal do emissor.
Quando conseguiram encontrar o esconderijo, o comissário Santos viu o carro estacionado do senhor X e deu ordens para os policias se esconderem e esperarem um bocadinho antes de intervir. Tinha razão, porque uns minutos mais tarde, o senhor X saíu, foi para o seu carro e voltou para o esconderijo com uma mala. O comissário Santos pensou que podia haver dinheiro na mala. Então, os raptores iam vender o menino. Era hora de intervir, mas, para ter os resultados melhores teve de esperar um bocadinho mais. Queria que ficasse bem claro que se tratava de uma transacção ilegal. Queria prender o homem desconhecido com as mãos na mercadoria e os raptores com as mãos no dinheiro. E foi exactamente assim como foram presos todos.
Quando os criminais foram presos, o comissário Santos saíu do seu carro e com ele saíu a Florida, que correu para o carro onde estava o Joãozinho. Mãe e filho abraçaram-se e estavam muito felizes.
Os policias passaram frente da Florida e do Joãozinho, levando consigo os três presos. O Passarinho olhou o Joãozinho nos olhos, como se lhe pedisse perdão. O Maestro olhou-o também, mas não havia nenhum sentimento no seu olhar. Depois deles, vinha um policia com o saco do dinheiro e com a mala também.
A Florida estava a olhar também os criminais que lhe tinham privado o seu filho durante tantos dias. Estava tão feliz que não podia sentir nada por eles. Quando, porém, apareceu o senhor X, a Florida ficou petrificada, isto é quando uma pessoa fica imóvel.
- João, disse e desmaiou.
O senhor X também ficou estupefacto. Olhou para a Florida, depois para o Joãozinho, outra vez para a Florida, que estava no chão... Estes olhos, pensou, estes olhos cravados na sua mente não eram os olhos do menino, eram os olhos da mãe, que ele, embora pensasse ter esquecido, levava sempre consigo. E o menino, então...
- Florida, disse a voz baixa, como se falasse para si mesmo.
Filho, pensou.
Mas não teve mais tempo, porque o levaram para um carro da Polícia.
Entretanto, a Florida recobrou consciência e era como se tivesse acordado de um sonho. Tinha visto o João ou não o tinha visto?
- Mãe, estás bem? perguntou o Joãozinho.
- Sim, querido. Agora que estou contigo, estou muito bem. Vamos?

domingo, 24 de novembro de 2013

27. Uma caça terminada



O senhor X abriu a mala. Era cheia de dinheiro. O Joãozinho nunca tinha visto tanto dinheiro junto. Não pôde dizer nada, porém, porque estava amordaçado outra vez.
- É a soma que concordámos? perguntou o Maestro.
- Se não confiam em mim, podem contar, disse o senhor X. A única coisa que posso dizer é que eu mesmo contei o dinheiro.
O Maestro aproximou-se da mala. Tocou algumas notas e levantou-as para ver se havia dinheiro por baixo. Podia haver papel em vez de dinheiro, mas não havia. Tudo parecia bem.
- Não vou contar agora, disse. Mas se houver algum erro, não vamos colaborar outra vez, fique a saber.
- É lógico, disse o senhor X. Posso levar o menino, agora? Já é tarde e o Talho está a esperar. E o cliente também.
- Sim, claro que o pode levar, disse o Maestro.
O Passarinho estava no outro quarto para não ver.
O senhor X estendeu a mão e agarrou o Joãozinho.
- Mmmmmm, disse o Joãozinho e procurou evitar a mão do senhor X. Aonde o levavam? Porque não o deixavam?
- Vem, menino, disse ele. Vamos a um lugar bonito, vais ver.
- Mmmmm, disse o Joãozinho outra vez.
O senhor X abriu a porta e saíu, agarrando o Joãozinho com força. Olhou para todos os lados. A rua estava deserta. Foi para o seu carro, abriu a porta e empurrou o menino para dentro. Foi então, quando uma década de luzes encenderam-se, todas viradas para o carro do senhor X.
- Alto, ouviu-se uma voz.
Ao mesmo tempo, o Maestro e o Passarinho ouviram golpes na sua porta.
- Abram, ouviu-se uma voz. Polícia.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

26. A sorte do ladrão



O carro azul corria a grande velocidade.
- Cuidado, disse o Maestro. Não queres que morramos, suponho.
- Não te preocupes, disse o Passarinho. Sou um condutor óptimo. Quando era jovem queria ser piloto e correr em ralis. Aliás, tu não disseste que a mãe do menino podia ter avisado a Polícia?
- É provável, sim. Mas isto não é razão suficiente para morrermos.
- Pois, se a mãe avisou a Polícia, temos de escapar, não é?
O Maestro não disse nada.
- Então, temos de correr, continuou o Passarinho. Corramos, então.
- Mas com cuidado, Ayrton.
- Sim, patrão.
Passaram pelas ruas escuras da cidade, procurando evitar os postos de Polícia.
- Depois de hoje, eu não vou continuar. Parto esta noite mesmo. Não quero ter nada com a morte do menino, disse o Passarinho.
- Podes fazer o que queiras. Em todo caso, eu não esperava nada mais de ti. Não posso colaborar com uma pessoa que está a pensar continuamente no seu «pequeno Tomás».
- Não falarias assim se tu também tivesses um filho...
- Já falámos neste assunto. A tua vida é tua e a minha é minha.
- Pois é.
Os dois homens ficaram calados durante o resto do percurso e nem trocaram uma palavra quando chegaram ao seu esconderijo. Estacionaram, saíram do carro, olharam para todos os lados: não havia ninguém. Tinham conseguido escapar.
Entraram no esconderijo com o saco nas mãos. Fecharam a porta e esvaziaram o saco no chão. Quanto dinheiro havia!
- Contamos, dividimos e depois tu vais embora, como disseste, disse o Maestro.
- Está bem, disse o Passarinho. Espero que o dinheiro não seja marcado. Não gostaria de ficar preso.
- Vamos ver, disse o Maestro e começou a examinar as notas. Não, as notas parecem claras, disse depois de pouco.
- Vamos contar, então. Cinquenta, cem, cento e cinquenta, duzentos...
Frente ao esconderijo, um carro parou. Um homem alto, magro e bem vestido saíu do carro e foi até à porta. Levantou a mão e bateu.
O Maestro e o Passarinho ficaram imóveis. Seria a Polícia?
O homem de fora bateu outra vez.
- Maestro, disse a voz alta, abra a porta.
O Passarinho olhou para o Maestro.
- Sabem quem és, disse. Chamam-te pelo teu nome!
- Passarinho! ouviu-se o homem outra vez.
- Conhecem a mim também!
- Sou eu, disse então o homem, X!
Graças a Deus! Não era a Polícia, era o senhor X. Mas não era cedo? O Passarinho meteu o dinheiro no saco outra vez e escondeu o saco por baixo da cama e o Maestro foi até à porta e abriu-a.
- Porque não me abrem? disse o senhor X, quando entrou no quarto. Não me ouvem?
- Não o esperávamos tão cedo, disse o Maestro. Desculpe.
- Tinha dito que voltava hoje por volta das oito e meia, e são as nove menos vinte, disse o senhor X. Não vim mais cedo, então.
- Sim, o senhor tem razão, desculpe, disse o Maestro. Então, tudo está pronto?
- Sim, tudo. O cliente já deu o dinheiro, o Talho está a esperar o menino e a clínica está a esperar o órgão. Tudo está em ordem.
- Onde está o dinheiro? disse o Maestro. Não é a hora do senhor dar o dinheiro que prometeu?
- Sim, claro. O dinheiro está no meu carro. Vou trazê-lo agora mesmo. Os senhores, entretanto, preparem o menino. Não temos tempo a perder.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

25. Operação nocturna



A Florida olha para o seu relógio. São as sete. Ainda? pensa. Será que não funciona? Desde que entrou no carro do comissário Santos, parece-lhe que passou uma eternidade. Mas os ponteiros parecem parados, o tempo decidiu a andar mais devagar, justamente quando deveria correr, voar como um furacão.
- A senhora está bem? pergunta-lhe o comissário.
- Sim, estou bem. Que horas são?
- São as sete. Falta meia hora.
Então, o relógio funciona. Meia hora. Trinta minutos. Mil oitocentos segundos. Uma eternidade. E os ponteiros mostram as sete e um.
Como decidiu falar ao comissário, não sabe explicar, como não sabe se fez bem ou mal. Os raptores disseram para ela não implicar a Polícia. O seu menino está em perigo.
- Não se preocupe, diz o comissário como se estivesse a ler o seu pensamento. Os nossos agentes já estão no lugar onde os raptores disseram que iam deixar o seu filho. Quando o virem, avisam-nos de seguida.
O comissário explicou-lhe o plano cem vezes. Quando os raptores apanharem o saco com o dinheiro, eles vão segui-los para depois os prender. Entretanto, os policías que estão no lugar onde os raptores disseram que deixariam o Joãozinho, vão apanhá-lo e conduzi-lo ao posto de Polícia, onde vai esperar para a sua mãe. Tudo irá sobre rodas, como disse o comissário. Mas ela duvida.
Sete e cinco.
Como estará o seu menino? Mais magro, certamente. Como o terão tratado aquelas pessoas? No telefone não se ouviu bem. Parecia muito assustado, pobrezinho! Vinte e cinco minutos mais, que martírio!
- Lopes, tudo bem? pergunta o comissário no rádio.
«zzz......cr..cr...aqui Lopes....cr...tu....bem...cr....cr...zzzzz....» ouve-se no rádio. «....inda não .....pareceu....guém. Tudo.....quilo...cr....»
- Repita, por favor, diz o comissário.
«...cr...não apareceu......guém...»
- Entendido. Muito bem, continue.
À estas horas já é noite e não se vê bem. Aliás, a noite é muito escura. A lua parece ter escondido para não ver. Por outro lado, a rua não tem muito tráfico, nem passam muitas pessoas. Não será muito difícil localizar o raptor, ou será?
- A senhora quer um café? pergunta o comissário. Ainda temos tempo.
- Não, obrigada. Estou bem.
Está bem? Tem dor de cabeça. Os pensamentos dentro do seu cérebro são como um enxame de moscas, ou melhor, como um enxame de vespas, que a picam continuamente.
Sete e dez.
Se pudesse fechar os olhos e abri-los outra vez às sete e meia!
Quem disse que quando passamos bem o tempo voa, mas quando enfrentamos uma situação desagradável, tudo parece durar mais? Pois, aquela pessoa tinha razão.
Então, deve fingir que passa bem. Deve pensar numa coisa agradável. Imagina que a meia hora já passou, tudo correu bem, e ela está no posto da Polícia onde está o Joãozinho. «Aqui está», dizem-lhe. «Abra a porta».
Abre a porta. O Joãozinho está lá, sim, não lhe mentiram. Está lá, com os seus cabelos de trigo e os seus olhos azuis. Quando a vê, ele corre aos seus braços. Que felicidade! Além dos seus braços, encheiou-se o seu coração também. Não quer deixá-lo. «Mãe!» diz o menino. «Estamos juntos outra vez!» «Sim, meu querido», diz ela. «E vamos ficar juntos para sempre!»
Entra o comissário. «Pois», diz, «a senhora viu que não tinha de preocupar-se? Tudo foi bem, exactamente como o tínhamos planeado». «Sim, senhor, muito obrigada», responde ela. «Não sei como agradecer-lhe». «Não é preciso fazer nada. Só fizemos o nosso trabalho. Agora pode voltar para sua casa. Passe bem e tenha um ano novo muito feliz». «Igualmente. Que Deus lhe bendiga.»
Vão para casa. Lá, o Joãozinho vê o pacote que está na sua cama. «Ó, mãezinha, o que é isto?» «Bom, filhinho, isto é o teu presente para o ano novo». «Mas ainda é cedo. O pai Natal não chegou. Faltam tantos dias.» «Pois, este ano, só para ti, fez uma excepção. Trouxe-te o teu presente mais cedo». «Que bom!» diz o Joãozinho e começa a abrir o pacote. «O que é? O que é?» O Joãozinho despedaça o papel e aparece o carro vermelho. «Um carro vermelho!» diz o menino e fica com a boca aberta. «E é novo, não é?» «Sim, meu querido» diz a Florida. «É novo e é para ti». «Obrigado, mãezinha!» diz o Joãozinho e abraça-a com ambas as mãos.
- Atenção, diz o comissário. Uma pessoa está a aproximar-se do contentor. Todos prontos!
São as sete e trinta e dois. Por entre a escuridão, uma sombra move-se com cuidado para o contentor. Não se vê. As luzes dos carros estão apagadas.
A sombra pára um minuto. Depois, abre o contentor e apanha um saco. Será o saco com o dinheiro. A sombra vai-se embora.
A Florida não ouve nada. O seu coração bate tão forte que sente que todos podem ouvi-lo, incluso a sombra. «Silêncio», pensa.
- Peixinho, não o perca.
«Sim, comissário, cr...cr.. se preocupe», ouve-se no rádio.
- Onde vai?
«Há um carro.... ul. Parece que .... uma pessoa. Sim, entra ....carro azul!»
- Entra no carro azul, disse?
«cr...sim»
- Vamos, diz o comissário.
Mas, naquele mesmo momento, um camião pára em frente do carro do comissário Santos.