terça-feira, 5 de novembro de 2013

19. À procura de testemunhas



O comissário Santos está numa rua central. Desde a manhã percorreu-a toda, sem encontrar nenhum sinal do Joãozinho. Está cansado mas não desiste. Uma voz dentro dele diz-lhe que as respostas que procura estão lá perto.
Anda na rua com grandes passos e o seu olhar vai da uma parte da rua à outra, procurando imaginar onde podia ter ido o menino, quando escapou dos seus raptores. No parque não o viu ninguém. Na rua, também. Mas, o que aconteceu, sumiu?
O casal que foi interrogado ontem não deu muitas pistas. Só pôde dizer onde estava o escritório do advogado-embusteiro. Os policias encontraram bastantes impressões digitais para procurarem os raptores, mas, até isso acontecer ele não pode perder tempo. Deve agir agora já.
Se não foi ao parque, onde podia ter ido? pergunta-se. Provavelmente não ficou na rua central. Provavelmente tratou de escapar através de uma rua lateral. Um menino muito esperto. Oxalá tenha conseguido escapar.
Vira à direita. Uma rua tranquila. Há menos tráfico e menos gente nesta rua, mas mesmo por isto parece mais tranquilizadora, especialmente a um menino de seis anos. Podia ter solicitado refúgio numa destas casas pobres?
Uma depois da outra, as casas gradualmente o decepcionam. Também nesta rua, ninguém o viu. Podia ter ido a uma outra rua lateral, obviamente. Está bem, pensa. Uma ou duas casas mais, e depois vou para uma outra rua.
Entra num jardim bonito. Uma senhora está a falar com uma planta. Que tipo de testemunha seria uma mulher que fala com as plantas? Mesmo assim, tem de provar.
- Bom dia, senhora.
- Ó meu Deus, que susto! diz ela. Estava distraída. O que é que o senhor quer?
- Desculpe, senhora, não queria assustá-la. Sou comissário Santos, e queria fazer-lhe algumas perguntas sobre um menino.
- Estou à sua disposição, comissário.
- A senhora viu este menino? Temos informação que ontem, ao meio-dia, estava no seu bairro.
- Que coincidência, senhor comissário! Ontem, ao meio-dia, adormeci um bocadinho e sonhei com este menino.
- Sonhou com o menino? Como?
- Deve ter acontecido quando estava a falar com a camélia...
O comissário pensa que a senhora não anda bem na cabeça, mas mexe a sua cabeça em sinal de aprovação.
- Continue, diz.
- Estava a falar com a camélia, quando ela me respondeu...
- Respondeu-lhe a camélia?
- Sim, senhor, mas, como já lhe disse, estava a sonhar. A camélia respondeu-me, mas resultou que não era a camélia que me respondeu, era este menino da fotografia.
Podia não ter sonhado com o menino? pensa o comissário. Podia tê-lo visto de verdade?
- Disse-lhe alguma coisa?
- Quem?
- Pois, o menino, claro.
- Não me lembro claramente, mas acho que me disse um conto.
- Um conto?
- Sim. Era sobre um maestro e um passarinho que conduzia um carro, acho. Não me lembro de nada mais.
O comissário pensa que a senhora está louca. Tanto tempo perdido. Tem de ir-se embora.
- Bom, senhora, muito obrigado pela sua ajuda.
- Ah, sim, e depois apareceu um homem de rabo de cavalo...
- Está bem, senhora, obrigado. Bom dia.

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