Amanhã é dia do Natal. Dia festivo para
todos, que o festejam com a família. Isto é o que pensa a Florida, e está
completamente desesperada.
Tantos dias passaram e ainda não soube
nada do seu filho. A única coisa que o comissário Santos lhe disse foi que,
como parece, o Joãozinho não foi raptado pelo bando brasileiro. Menos mal, mas
mesmo assim, a verdade é que ninguém sabe em que tipo de perigo está
exactamente o seu filhinho.
Na cama do Joãozinho está um pacote. É o
presente que ela comprou para ele. É um carro pequeno vermelho. Custou-lhe um
bocadinho caro, mas nada pode ser mais caro de um filho, não é?
A Florida pensa que seria boa ideia ir à
igreja e rezar ao menino Jesús para proteger o seu menino e para o devolver nos
seus braços muito pronto. Pensa também que seria boa ideia fazer um voto. Pode
prometer que não vai cortar o seu cabelo até o Joãozinho voltar. Dantes, as
mulheres faziam votos deste tipo, quando os seus maridos partiam longe, ou
quando iam à guerra, ou quando estavam muito doentes.
Abre o roupeiro, onde está o seu único
vestido. Soa o telefone. O coração da Florida dá um salto. Quem será?
Anda correndo ao telefone e com mão
tremente levanta o auscultador.
- Estou, diz com uma voz que apenas se
ouve.
- A senhora Pestana? pergunta uma
desconhecida voz masculina.
A Florida senta-se na cadeira que está ao
lado do telefone.
- Sim, sou eu, diz e sente o seu coração
galopando dentro do seu peito.
- Temos o seu filho, senhora Pestana, e se
a senhora quizer vê-lo outra vez, tem de pagar...
- Não percebo, balbucia. Quem é?
- Oiça, continua a voz, porque não vou
repetir. Se a senhora quer ver o seu filho outra vez, tem de pagar dinheiro.
De repente, a Florida dá conta do que se
trata.
- O meu filho, diz, como está? Onde está?
Grandes lágrimas começam a correr nas suas
faces.
- Pelo momento, o seu filho está bem, não
se preocupe.
- Quero falar com ele. Quero falar com o
meu filho!
- Mãe, ouve-se a voz do Joãozinho.
- Meu amor! Como estás? Onde estás?
Fizeram-te algo mau?
- Como a senhora vê, não estou a mentir,
ouve-se outra vez a voz do homem desconhecido.
- Quero falar com o meu filho, diz outra
vez a Florida. Quero ouvir ele mesmo dizer que está bem.
- Mãe, ouve-se o Joãozinho outra vez.
- Filhinho, como estás, meu amor? Estás
bem?
- Leva-me de aqui, mãezinha, leva-me de
aqui!
- Sim, filhinho, sim, tem um pouco de
paciência. Pronto estaremos juntos, não fiques triste...
- Mãezinha, procurei escapar, mas não
sabia...
- Então, ouve-se a voz do homem, a senhora
viu que o seu filho está vivo. Agora, se quizer ver o seu filho, tem de seguir
as nossas instruções.
- Sim, vou fazer tudo o que me disserem,
por favor não lhe façam mal!
- Tudo dependerá de si.
- O que devo fazer?
- Primeiro, não pode avisar a Polícia. Se
avisar a Polícia, sinto muito mas teremos de matar o menino.
- Matar? Não, não, por favor, não lhe
façam mal! É apenas um menino. Não vou chamar a Polícia, prometo-o, não se
preocupe.
- Segundo, a senhora deve deixar o
dinheiro num lugar que nós vamos decidir e deve andar ao lugar sozinha, sem
companhia de ninguém.
- Sim, claro, vou fazer como me diz. E
onde tenho de ir?
- Já é cedo para a senhora saber. Vamos
avisá-la um pouco antes do nosso encontro. Depois, quando tivermos o dinheiro,
a senhora vai ter o seu filho.
- E como posso saber eu que vão fazer o
que me diz?
- Não pode saber, diz a voz. Mas se a
senhora não fizer o que dizemos, pode ter certeza que não vai voltar a ver o
seu filho...
A Florida sente tanto medo que, até agora,
nunca sentiu na sua vida.
- Está bem, diz. E quanto é que os
senhores querem para deixar o meu filho?
Ouviu bem?
- Mas é muito, diz e pensa que muito
pronto vai desmaiar. Eu não tenho tanto dinheiro.
- Sim, todos dizem que não têm, mas um
pouco depois todos encontram. A senhora tem certeza que quer ver o seu filho?
Porque podemos deixar a situação como está: nós sem dinheiro e a senhora sem
filho...
- Por favor...
- Não somos más pessoas, senhora. Digamos
que esta não é a sua resposta final. Vou telefonar outra vez esta noite para
saber qual é a sua decisão. E, lembre-se: nada de Polícia. Com licença.
A Florida fica com o auscultador na mão. O
que tem de fazer agora?
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