O carro azul corria a grande velocidade.
- Cuidado, disse o Maestro. Não queres que
morramos, suponho.
- Não te preocupes, disse o Passarinho.
Sou um condutor óptimo. Quando era jovem queria ser piloto e correr em ralis.
Aliás, tu não disseste que a mãe do menino podia ter avisado a Polícia?
- É provável, sim. Mas isto não é razão
suficiente para morrermos.
- Pois, se a mãe avisou a Polícia, temos
de escapar, não é?
O Maestro não disse nada.
- Então, temos de correr, continuou o
Passarinho. Corramos, então.
- Mas com cuidado, Ayrton.
- Sim, patrão.
Passaram pelas ruas escuras da cidade,
procurando evitar os postos de Polícia.
- Depois de hoje, eu não vou continuar.
Parto esta noite mesmo. Não quero ter nada com a morte do menino, disse o
Passarinho.
- Podes fazer o que queiras. Em todo caso,
eu não esperava nada mais de ti. Não posso colaborar com uma pessoa que está a
pensar continuamente no seu «pequeno Tomás».
- Não falarias assim se tu também tivesses
um filho...
- Já falámos neste assunto. A tua vida é
tua e a minha é minha.
- Pois é.
Os dois homens ficaram calados durante o
resto do percurso e nem trocaram uma palavra quando chegaram ao seu
esconderijo. Estacionaram, saíram do carro, olharam para todos os lados: não
havia ninguém. Tinham conseguido escapar.
Entraram no esconderijo com o saco nas
mãos. Fecharam a porta e esvaziaram o saco no chão. Quanto dinheiro havia!
- Contamos, dividimos e depois tu vais
embora, como disseste, disse o Maestro.
- Está bem, disse o Passarinho. Espero que
o dinheiro não seja marcado. Não gostaria de ficar preso.
- Vamos ver, disse o Maestro e começou a
examinar as notas. Não, as notas parecem claras, disse depois de pouco.
- Vamos contar, então. Cinquenta, cem, cento
e cinquenta, duzentos...
Frente ao esconderijo, um carro parou. Um
homem alto, magro e bem vestido saíu do carro e foi até à porta. Levantou a mão
e bateu.
O Maestro e o Passarinho ficaram imóveis.
Seria a Polícia?
O homem de fora bateu outra vez.
- Maestro, disse a voz alta, abra a porta.
O Passarinho olhou para o Maestro.
- Sabem quem és, disse. Chamam-te pelo teu
nome!
- Passarinho! ouviu-se o homem outra vez.
- Conhecem a mim também!
- Sou eu, disse então o homem, X!
Graças a Deus! Não era a Polícia, era o
senhor X. Mas não era cedo? O Passarinho meteu o dinheiro no saco outra vez e
escondeu o saco por baixo da cama e o Maestro foi até à porta e abriu-a.
- Porque não me abrem? disse o senhor X,
quando entrou no quarto. Não me ouvem?
- Não o esperávamos tão cedo, disse o
Maestro. Desculpe.
- Tinha dito que voltava hoje por volta
das oito e meia, e são as nove menos vinte, disse o senhor X. Não vim mais
cedo, então.
- Sim, o senhor tem razão, desculpe, disse
o Maestro. Então, tudo está pronto?
- Sim, tudo. O cliente já deu o dinheiro,
o Talho está a esperar o menino e a clínica está a esperar o órgão. Tudo está em
ordem.
- Onde está o dinheiro? disse o Maestro.
Não é a hora do senhor dar o dinheiro que prometeu?
- Sim, claro. O dinheiro está no meu carro.
Vou trazê-lo agora mesmo. Os senhores, entretanto, preparem o menino. Não temos
tempo a perder.
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