terça-feira, 15 de outubro de 2013

10. Um comissário com sensibilidade



O comissário Santos está no seu escritório. Durante a sua longa carreira viu muitos casos como o do Joãozinho. Pensa que provavelmente o menino fosse raptado. É muito pequeno para querer ir-se embora, e a mãe parece tão carinhosa...
Olha para a fotografia. Que pena que não haja outra, mais recente. Mas, vamos, tem de continuar a investigação com os meios que tem. Não é por coincidência que o consideram um comissário capaz.
- Vamos ao centro comercial, diz a um policia.
No centro comercial há muita gente. O comissário não gosta da multidão, mas tem de fazer o seu trabalho. Com a fotografia do menino nas mãos, entra nas lojas e pergunta às pessoas que trabalham lá se têm visto um menino loiro, que é tão alto (e levanta a mão ao nível do seu barrigão) e parece ao menino da fotografia, mas já tem mudado os dentes de frente, e no dia anterior, quando desapareceu, usava calças azuis escuras, camisa amarela, sobretudo castanho claro e um cachecol às riscas. As pessoas olham para a fotografia, procuram lembrar, mas dizem que não viram nenhuma criança assim. E o comissário continua o seu trabalho, perguntando e mostrando a fotografia.
Uma empregada diz que viu um menino loirinho que parecia ao menino da fotografia, mas, espere um momento, era mais alto e usava casaco aos quadrados. Não, não era ele.
Mas um guarda lembra-se do menino. Sim, viu-o há dois dias. Estava com uma mulher jovem e bonita, provavelmente com a sua mãe. Iam para o sector dos brinquedos. Mais tarde viu a mulher outra vez, mas ela estava sozinha. Não viu o menino? Não senhor, não o viu, sente muito. Há outras saídas no edifício? Sim, senhor, mas normalmente não estão abertas. Só em caso de emergência é que as saídas se abrem à gente. Podia alguém, que conhecesse onde ficavam aquelas saídas, ter saído através de uma delas? Não, senhor, porque há guardas perto de todas as saídas. Tem certeza que não viu o menino sair do centro? Sim, senhor, não o viu, mas isto não quer dizer que o menino não tenha saído dali. Claro que não. Se se lembrar de alguma coisa, por favor, eis o número do telefone pessoal do comissário. Pode telefonar a qualquer hora. Sim, senhor, que fique tranquilo. Bom dia.
O comissário fica decepcionado. O que vai dizer à pobre mãe? Não quer dar esperanças falsas, mas também não quer matá-la. Um comissário eficaz tem de ser psicólogo também.
Estamos ainda no início das investigações, diz à mãe. Pelo momento temos de analizar as informações que nos deram várias pessoas. Alguém o viu? pergunta ela. Sim, mas ainda é muito cedo para dizer qualquer coisa sobre o assunto. A senhora tem de ter paciência.

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