quinta-feira, 31 de outubro de 2013

17. A velha adormecida



O cumprimento da camélia deixou a dona Amália muito surpreendida. Nunca esperava ouvir uma flor falar. Mas, era verdade? A camélia tinha falado mesmo? Tinha de esclarecê-lo.
- Senhora camélia, disse olhando para a planta com muita atenção, desculpe, mas, pode repetir o que disse? Sou velha e não oiço muito bem.
Houve silêncio.
- Sou tão velha que imagino coisas, disse a dona Amália e virou para a sua casa. Mas, justamente quando virou, ouviu repentinamente um sussurro por entre os ramos e ouviu a mesma voz:
- Senhora, não se assuste.
Por pouco a dona Amália não desmaiou. Virou outra vez para a camélia e viu que os seus ramos estavam a mexer.
- Meu Deus, pensou, será que a camélia pode caminhar também?
Então, por entre os ramos da camélia, apareceu um menino.
- Sou eu, senhora, por favor não se assuste, disse o Joãozinho.
- Ó, menino, assustaste-me muito. O que estás a fazer aqui? Onde está a tua mãe? Não me parece ter-te visto outra vez no nosso bairro.
- Não sou de aqui, disse o Joãozinho. Dois homens trouxeram-me.
- Que homens? perguntou ela.
- Não os conheço. Têm nomes estranhos. Um se chama Maestro e o outro se chama Passarinho.
- Meu pequeno, não te estás a imaginar coisas? perguntou a dona Amália e bocejou. Estes nomes não parecem nomes verdadeiros. Onde está a tua mãe? Anda, vamos sentar aqui neste banquinho e contas-me tudo.
- Mas estou a dizer a verdade! O Maestro foi aquele que me levou. Estava eu com a minha mãe no centro comercial, e perdi a minha mãe, e apareceu ele, e disse-me que ia levar-me à minha mãe, mas levou-me num lugar que não conheço...
- Espera, filho, porque... aaaaaaaaaaaa........ dizes muitas coisas, e não posso seguir-te. Diz-me outra vez: onde foi que conheceste ........... aaaaaaaaa...... aquele homem?
- No centro comercial. E disse que ia levar-me à minha mãe, mas não me levou a ela, pôs-me num carro que conduzia o Passarinho, e levaram-me num lugar...
- Que conduzia o Passarinho... sim.... isto.... aaaaaaaaaaaaa..... parece muito estranho. Eu nunca ouvi de um passarinho conduzir um carro. Tens certeza, filho, que me estás a dizer a verdade? Aaaaaaaaaaa......... que bocejo, meu Deus!
- Sim, senhora, e procuraram dar-me a um casal desconhecido, mas eu escapei...
- Os bons meninos não escapam .... aaaaaaaaaaa.... E que aconteceu depois? Deixa-me fechar os olhos um bocadinho. Sinto-me tão ..... cansada...
- Senhora, não durma, por favor!
- Não estou a dormir.... aaaaaaa...... oiço-te perfeitamente. E como são estes homens?
- O Passarinho é gordo, calvo e com bigodes e o Maestro é alto, magro, usa óculos e tem o cabelo cumprido...
- A rabo de cavalo?....
- Sim, como a senhora sabe?
- ....aaaaaaaaa.... não o sei, mas.... há um homem de rabo de cavalo.... aaaaaaaaaaaaa... na entrada do ...aaaaaaaaaaa... jardim............
- Pensaste que podias escapar? perguntou o Maestro e agarrou-o pelo braço. Vem cá!
- Deixe-me, disse o Joãozinho mas antes de ter tempo para dizer mais, a mão do Maestro tinha-lhe tapado a boca.
- Ó Passarinho, abre a porta. Vou atar e amordaçar o menino, para evitar outros acidentes.
O Maestro pôs o menino dentro do carro e entrou ele também. A dona Amália não deu conta, porque já estava a dormir, sentada no banco. Mas, desde a casa de em frente, uma criança pequena estava a tocar o vidro de uma janela grande como se fosse um tambor, saudando assim um amigo novo que acabava de desaparecer num carro azul escuro.

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