domingo, 20 de outubro de 2013

12. Uma notícia inquietante



O senhor Filisberto era um homem que gostava de estar informado sobre a actualidade. Cada dia, quando ia ao seu café preferido, sentava-se na sua mesa e abria o seu jornal para se informar sobre o que acontecia no mundo. Depois, quando chegavam os seus amigos, para tomar café e para jogar a dominó, ele informava-os sobre as últimas notícias, comentando-as também.
Hoje também o senhor Filisberto está no seu posto, a ler o seu jornal. O jornal de hoje não é muito diferente do jornal de ontem. Decisões do governo, reacções de sindicatos, declarações de pessoas de política, artigos de economia, de ciência... Os amigos dele jogam ao seu lado, comentando a partida. O senhor Filisberto responde, às vezes, mas é, quase completamente, absorbido pelo que está a ler. «Aumentou-se a diferença entre ricos e pobres.» Que novidade! «Novos datos provam que o nível de vida baixou.» Não me digam! «Menos sono significa menos éxito em todos os aspectos da vida. Os segredos para um sono benéfico.», «A depressão. Uma doença do nosso tempo.»
- O que há no jornal, Filisberto? pergunta o senhor José. Alguma novidade?
- A mesma coisa, mais ou menos, responde ele. A depressão, diz, é uma doença do nosso tempo.
- Nenhuma novidade, então. Porque não deixas de ler? Joga connosco.
- Não é assim. As pessoas têm de se manterem informadas. Ainda não li o jornal inteiro. Pode haver alguma coisa interessante. Vocês continuem.
- Eu também lia o jornal todos os dias, diz o senhor Rodrigo, o outro amigo do senhor Filisberto. Chegou, porém, um dia, quando pensei que as notícias que são verdadeiramente importantes não estão nos jornais. A vida está fora dos jornais, não está dentro deles.
- A vida não está dentro dos livros também, mas gostas de ler livros, responde o senhor Filisberto.
- Sim, mas os livros não pretendem tomar o posto da verdade. Quando leio um livro, sei muito bem que se trata de ficção.
À duas mesas dos três homens, a Florida está a limpar. Terminou o seu trabalho na cozinha e está a limpar as mesas vazias do café. Tudo o que faz é feito mecanicamente. Os seus pensamentos viajam longe dela. Dois dias já passaram e não há nenhuma notícia do comissário. Talvez tenha de visitá-lo outra vez. Sim, hoje mesmo, quando terminar o seu trabalho, vai directamente à Polícia. Não pode esperar mais. Qualquer informação sobre o seu filho, ajuda-la-á a aguentar aquele martírio.
- Eis uma notícia diferente, diz o senhor Filisberto. «Bando criminal brasileiro com ligações no nosso país. Procuram-se pelo menos dez pessoas. A Polícia brasileira declarou que foi descoberto um perigoso bando criminal. Os criminais do bando cometeram muitos crimes durante a última década. Entre os vários crimes que cometeram, também foram implicados em casos de raptos infantis, especialmente no Brasil. Os casos não estão resolvidos ainda mas a Polícia receia que os meninos fossem raptados com a intenção de fornecer o mercado negro com órgãos humanos. O comissário Aristides Ramos, chefe das investigações, informou o nosso correspondente que a Polícia já está à procura das ligações portuguesas. Segundo o comissário, é provável que o bando tivesse procurado vítimas no nosso país também.» Em que mundo vivemos, meu Deus! Mas, o que aconteceu? A mulher desmaiou! Água, por favor!
- Senhora, está bem? Senhora, o que aconteceu?
- Florida, o que aconteceu, querida? Ouves-me? Florida!
- Eis a água! Por favor, façam espaço. Não vêem que a mulher desmaiou?
- Há algum médico?

Sem comentários:

Enviar um comentário