quinta-feira, 24 de outubro de 2013

14. Furacão no escritório



O comissário Santos não era um homem difícil. Comia de tudo e não precisava de muito para estar contente. A sua mulher era uma mulher sortuda. Porém, cada dia a senhora Santos telefonava ao seu marido para lhe perguntar sobre o que queria que ela cozinhasse.
Hoje também, a senhora Santos telefonou ao seu marido. A comida do dia seria bacalhau ao bras, o prato favorito do comissário, mas mesmo assim ela tinha de perguntar se ele gostava da ideia. Sim, disse ele, era uma óptima ideia. A senhora Santos foi satisfeita pela resposta e informou-o também que iria à escola dos seus filhos para assistir na festa que davam para festejar antes das férias do Natal. Então, ia apagar o seu telemóvel durante uma hora. Avisava-o para não se preocupar em caso que lhe telefonasse. O comissário prometeu que não ia telefonar, nem ia preocupar-se durante aquela hora.
Gostaria muito de poder ir à festa dos seus filhos, mas tinha de trabalhar. Havia um menino que tinha desaparecido, e ele ainda não tinha conseguido nada. O que diria à mãe? Tinha-lhe prometido que a manteria informada, mas nem sequer ele tinha bastante informação.
E eis, agora, que um policia entra no escritório do comissário, dizendo que a mãe do menino desaparecido veio a pedir informações sobre as investigações. Pode passar, diz o comissário.
A mulher que entra parece ser uma outra mulher. É muito pálida, como se tivesse visto um fantasma, e parece ter envelhecido dez anos pelo menos. A Florida entra no escritório como um furacão.
- Onde está o meu filho? pergunta. O que aconteceu com ele? Porque não me diz?
- Calme-se, senhora, diz o comissário. Sente-se, por favor.
- Não é hora de me acalmar, responde ela. Porque não me diz a verdade?
- Senhora Pestana, aseguro-lhe que não temos nenhuma novidade sobre o seu filho...
- Por favor, diz a Florida e as lágrimas caem nas suas faces, o senhor pode dizer-me. Sou forte, vou aguentar. Diga-me: foi raptado pelo bando brasileiro?
- Qual bando brasileiro?
- O bando do que está a falar o jornal. É verdade? Raptaram o meu filho para lhe sacar ... os órgãos? A Polícia encontrou o seu corpinho?
A Florida não consegue continuar. Não pára de chorar.
- Calme-se, senhora, por favor, diz o comissário e oferece-lhe uma cadeia. Sente-se aqui. Traga um copo de água, por favor, diz ao policia que está na porta.
- Porque não me diz? pergunta a Florida.
O comissário pensa. O que pode dizer? Ele não sabe nada. As informações que tem são tão poucas que não podem servir para nada. Mas a mulher precisa de uma resposta. Tem de se comportar como psicólogo outra vez.
- Senhora, ainda é muito cedo para saber onde exactamente está o seu filho, mas vou dizer-lhe o que sabemos até agora.
A Florida olha para ele directamente nos olhos.
- Bom, continua o comissário, é muito provável que o seu filho foi raptado, como a senhora disse, mas (e acentua a palavra «mas»), mas, repito, os raptores parecem ser coincidenciais, quer dizer que não pertencem nos chamados «criminais organizados».
A Florida olha para ele sem pestanejar.
- Isto é um bom sinal, porque os criminais coincidenciais são mais fáceis de encontrar.
A Florida parece acalmar-se. O comissário respira e continua.
- A Polícia acha que o seu filho está vivo e está bem e eu, pessoalmente, espero que muito pronto o pequeno João estará consigo, senhora. Senhora, sinceramente, deixe à Polícia fazer o seu trabalho. Os nossos agentes trabalham dia e noite para chegarmos ao resultado desejado o mais cedo possível. Eu, pessoalmente, me ocupo do caso e não vou desistir antes de encontrar o seu filho. A senhora tem a minha palavra de honra.
Abre a porta, vem o policia com um copo de água.
- Por favor, diz o comissário, beba um pouco de água. A senhora está pálida.
A Florida toma o copo, e bebe um pouco.
- O meu filho é tudo para mim, diz. Sem ele, a minha vida não vale nada.
- Seja optimista, diz o comissário. A maioria dos casos deste tipo resolvem-se. Nada está perdido, ainda estamos no início das investigações. Confie em mim. Vou resolver o caso.
- Muito obrigada, senhor comissário. E desculpe-me por ter falado assim, mas é por causa da desesperação.
- Não faz mal, não se preocupe. É normal. E agora, se a senhora me permite, tenho de voltar ao trabalho.
- Pois, claro, vou-me embora. Eu também tenho de voltar ao meu trabalho. Desculpe-me outra vez. Bom dia.
- Bom dia.
- Se souber alguma coisa, por favor, avise-me.
- Não se preocupe.
O comissário fica sozinho no escritório. Que trabalho tão difícil! O policia entra outra vez no escritório e leva o copo de água que trouxe para a Florida.
- Traga-me os jornais de hoje, diz o comissário.
Qual é o bando brasileiro?

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