terça-feira, 29 de outubro de 2013

16. Entre comissários



O comissário acabou de ler o jornal. Não gostou nada do que leu. Será possível? pensa. O pequeno desaparecido foi raptado pelo bando? Que mudança tão desagradável! E ele prometeu à mãe do pobre menino que ia resolver o caso! Tem de pedir informação sobre o bando. Como se chama o chefe das investigações?
- Telefonem ao comissário Ramos, diz. Quero falar com ele.
Ele e o comissário Ramos conhecem-se desde os anos da academia policial. Naquela época, ambos eram muito jovens e achavam que podiam salvar o mundo, como todos os jovens pensam. Com o tempo passar, ambos também deram conta que salvar o mundo é uma tarefa muito difícil mesmo.
O telefone soa duas vezes.
- Estou, diz o comissário.
- O comissário Ramos está na linha, ouve-se a voz de um policia.
- Muito bem, passe-mo. Bom dia Aristides, diz quando ouve a voz do seu amigo. Sou eu, Andrés. Tudo bem?
- Olá, Andrés, tudo bem, sim. Só que me encontras muito ocupado. Ouviste falar do bando brasileiro, não é?
- Pois sobre isto queria falar-te.
- Tens alguma informação para mim?
- Não, ao contrário, esperava que tu pudesses ajudar-me a mim.
- Ajudar-te? Como?
- Tenho um caso de rapto infantil. Não tenho muitas evidências e procuro eliminar as hipóteses, para chegar a um resultado. Este bando brasileiro está implicado em casos de raptos infantis?
- No Brasil, sim. No nosso país, ainda não sabemos. Estamos à procura das ligações portuguesas, mas ainda não temos nenhum preso. As informações que temos são vagas e vêm todas da Polícia brasileira, que já tem preso mais de dez pessoas. Onde foi raptado o menino do que estás a falar?
- No maior centro comercial, há alguns dias.
- Sinto muito, mas infelizmente não posso ajudar-te. Porém, se ficar a saber alguma coisa aviso-te, não te preocupes.
- Obrigado, Aristides. Espero que resolvas o caso muito pronto.
- Isto eu também espero. Desculpa-me agora, mas tenho de voltar ao trabalho. Com licença.
- Sim, claro, com licença.
Então, o Aristides não pode ajuda-lo. Outra vez sem nada nas mãos. A imagem da pobre mãe vem outra vez na sua mente. Sente-se muito débil.
O telefone soa outra vez.
- Estou.
- Olá, Andrés, tudo bem?
- Quem é?
- Não me conheces, homem? Onde anda a tua mente? Sou eu, Roberto.
- Ah, sim, Roberto, olá, não te reconhecei, desculpa. Tenho um caso difícil e estava a pensar nele.
- Telefono-te para te lembrar que esta noite temos encontro no clube. É noite de futebol. Vamos vê-lo com cervejinhas e petiscos. Não te esqueças.
- Não sei, Roberto, este caso me preocupa muito...
- A vida de nós, policias, é cheia de casos, Andrés. O que vais fazer? Tens de continuar a viver para puderes continuar a resolver casos.
- Sim, já sei. Ma este caso é um caso especial...
- Não há casos especiais no nosso trabalho. Todos os casos têm a mesma raiz. As pessoas fazem coisas estúpidas e depois chamam a Polícia para corrigir os seus erros.
- Trata-se de um rapto. Não é coisa de uma pessoa ter errado.
- Claro que é. Uma mãe perdeu o filho porque não estava bastante atenta. Eis o erro.
- Não sejas tão cínico.
- Não sou cínico, só digo a verdade. Tu, simplesmente, és muito sentimental. Pensa-o melhor e vais ver que tenho razão. Todos os casos são resultados de erros, propositados ou não, não importa. O resultado é o mesmo. Eu, por exemplo, acabo de receber um telefonema de uma senhora que disse que ela e o seu marido foram robados por dois homens, que procuraram dar-lhes um menino órfão para adoptar, mas o menino disse que queria a sua mãe, e depois não sabem o que aconteceu, porque adormeceram e quando acordaram, não havia sinal nem dos homens, nem do menino, nem das poupanças do casal... E pergunto-te: porque é que aconteceu tudo isto? É um caso especial? Claro que não. Porque se o casal tivesse pensado um bocadinho no assunto, teria visto que havia algo errado em tudo isto. Mas não pensou. E agora a Polícia tem de encontrar os ladrões e o dinheiro perdido.
O Roberto parece estar zangado. Mas este caso... podia ter alguma relação com o bando brasileiro?
- Porque não informas o Aristides Ramos sobre o caso do casal? Tem um caso grande com um bando brasileiro que tem ligações no nosso país.
- Não acho que seja algo grande. Foram somente dois criminais que iam vender um menino a um casal. Esta história é tão velha como o Adão e a Eva. Obviamente, um dos homens tem um filho que usa como engodo para pescar vítimas. Ou, podiam também ter raptado o menino para o vender...
Uma luz acende-se na mente do comissário Santos.
- Podiam ter raptado o menino, disseste?
- Evidentemente...
- Quando vais interrogar o casal?
- Dentro de pouco vou ao lugar do crime, porque estás a perguntar?
- Porque quero ir contigo. O teu caso podia ter alguma relação com o meu caso.
- Pois, se tu achas... Está bem. Espero-te, mas não demores. Temos de terminar pronto, porque depois temos de preparar-nos para o jogo de futebol.
- Vou agora mesmo, diz o comissário e desliga.

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